O poder da branquitude e racismo institucional: percepções sobre o acesso à diplomacia brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v24i50.1172

Palavras-chave:

racismo, racismo institucional, afro-brasileiros.

Resumo

O Instituto Rio Branco (IRBr), única instituição oficial de formação de diplomatas do Ministério da Relações Exteriores (MRE) brasileiro, tem registrado uma sub-representação de afro-brasileiros e de afro-brasileiras na sua carreira diplomática. Nesse sentido, Oliveira (2011) postula em seus estudos que, até 2010, apenas 0,07% dos diplomatas do IRBr eram afro-brasileiro(a)s, dado este que comprova essa sub-representação de membros desse grupo étnico-racial naquela carreira. Nesse contexto, este artigo, como parte de uma pesquisa mais ampla, buscou investigar os critérios de seleção ao cargo de diplomata, se tais critérios estão permeados pelos racismos pessoal e institucional mediados pela atualização da agenda eugênica no Brasil, bem como as impressões que os diplomatas tanto afro-brasileiros e brancos que ingressam no IRBr possuem sobre a carreira. Numa perspectiva sócio-histórica, foram levantados os enfrentamentos pelos quais os diplomatas tanto afro-brasileiros como brancos têm vivido em suas trajetórias. Trata-se de uma pesquisa fenomenológica, de análise qualitativa, na qual foram utilizados, como procedimentos metodológicos, a análise bibliográfica, a documental, entrevista semiestruturada, questionário aberto e a Análise Crítica do Discurso (ACD). A análise está elucidada nas impressões dos diplomatas sobre a carreira, de suas concepções sobre o racismo institucional e nas experiências que os diplomatas afro-brasileiros têm ao ingressarem na diplomacia.

Biografia do Autor

Ahyas Siss, PPGEduc/UFRRJ

 Pós-doutor em Antropologia Social  (UFRRJ)Doutor em Educação (UFF)Professor/Pesquisador do PPGEduc/UFRRJ/Mestrado e Doutorado em Educação Departamento Educação e Sociedade - IM/DESLíder do GPESURER - Grupo de Pesquisa Educação Superior e Relações Étnico-Raciais.Coordenador do OPAAS - Observatório de Ações Afirmativas do Sudeste -  http://r1.ufrrj.br/opaa/pt/ 

 

Viviane da Silva Almeida, PPGEduc/UFRRJ

Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) na linha de pesquisa "Educação e Diversidades Étnico-raciais". Pesquisadora do GPESURER - Grupo de Pesquisa Educação Superior e Relações Étnico-Raciais.

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Publicado

2019-04-10

Como Citar

Siss, A., & Almeida, V. da S. (2019). O poder da branquitude e racismo institucional: percepções sobre o acesso à diplomacia brasileira. Série-Estudos - Periódico Do Programa De Pós-Graduação Em Educação Da UCDB, 24(50), 83–102. https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v24i50.1172

Edição

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Artigos